23.1.08

Natal, uma cidade fora do eixo


Música

Um festival por mês. Essa é a produção musical do DoSol para o primeiro trimestre do ano.

Natal, uma cidade fora do eixo.

Renata Marques

Cresce cada vez mais circuitos de música fora do eixo Rio-São Paulo. Explode pelo Brasil inteiro festivais de música, organizado por coletivos independentes. O Centro Cultural Dosolrockbar também embarca na onda e promove nos sabados de janeiro o “Festival Novas”, reunindo 20 bandas de Natal e Recife. A entrada custa cinco reais.

Na primeira semana do evento, subiram no palco as bandas Muzzle, Vovó Furiosa, Guilhotina, Moldura, Sex Bomb e Domma, todas do RN. Na segunda semana do festival, dia 19 de janeiro, tocaram Elastano, Hora Absurda, Declite, Superia, Cretinos e Decreto Final. No último dia do evento, 26 de janeiro se apresentam as bandas: Domben, Alter Ego, Nuda (PE), Tabacos de Guevara (PE), Bandini, Omega 3 e Sobre Rosas e Diamantes.

De olho

O DoSol prepara também mais dois festivais para os meses seguintes aqui em Natal: “Chamada Rock, durante o Carnaval” e o “Festival Nordeste Independente”, esses eventos acontecem simultaneamente em outros locais do país, através de uma mobilização virtual geral.

Por trás destas realizações em Natal existe uma equipe, formada desde 2000: Ana Morena e Anderson Foca na administração, Marlos Ápyus na web, Caio Vitoriano no designer, Dante Augusto no estúdio e Cledson no Dosolrockbar. Em entrevista, Anderson, fala sobre os festivais, como essas realizações fortalecem Natal como um dos polós fora do eixo do mercado musical nacional, do novo portal DoSol, da facilitação da internet na plataforma da música,além, da idéia de lançar um livro em breve.

ENTREVISTA | anderson foca

Quais as linhas de atuação do Dosol hoje?
O DoSol hoje é um selo virtual, um portal de música, produtora de shows e vídeos, um casa de shows e um estúdio. O site teve uma mudança drástica porque passou a ter notícias, notas e entrevistas com gente do Brasil inteiro. Antes ele era um espaço só para falarmos do selo e das nossas ações. O número de visitantes aumentou em quase 1.000% nestes três primeiros meses e tem sido bem legal para nós os resultados. Deveremos lançar via DoSol Net Label alguns trabalhos que estão em fase de mixagem como o Drunk driver, calistoga, entre outros...

Qual a proposta do Festival Novas? Qual a sonoridade e o perfil das bandas que vão participar?
O festival Novas é uma continuidade que o Centro Cultural Dosolrockbar dá a novos grupos desde da sua inauguração em 2004. Já promovemos o Festival Furadeira, o New Generation e agora o Novas, todos no intuito de ver em ação novos grupos, dar espaço para eles num lugar legal e com boa estrutura e fazer a a coisa girar. Não há critérios de seleção exatamente porque são bandas novas e não se deve exigir ou tosar nada nessa fase, cada um vai lá e mostra o que sabe. Só não gostamos que as bandas toquem muitos covers e pedimos prioridade em músicas autorias. A sonoridade das bandas é bem eclética!

Promover pequenos festivais/circuitos tem sido uma boa fórmula para movimentar a cena da música ?
Há muitas maneiras de movimentar a cena, acho que aqui no DoSol nós experimentamos todas elas. Produzimos cds com bandas com alguma experiência, dvd com quem já está no mercado, shows com bandas começando, festivais, isso tudo movimenta a cena num todo.

Ainda nesse primeiro trimestre você pretende organizar mais dois eventos. O Grito Rock, que é durante o Carnaval e acontece paralelamente a outros locais do Brasil. E o Festival Nordeste Independente, que tem a mesma proposta de simultaneidade, mas somente no Nordeste. Como é o dialogo com a organização e divulgação com o resto do país?
Nossa ação no carnaval local chama-se Chamada Carnavalesca do rock e vai para sua segunda edição, vai acontecer na segunda feira de carnaval no palco do Centro Histórico bem perto do Beco da Lama. Reuniremos lá oito bandas do rock local e que estarão disponíveis para shows nesse período. Teremos novidades como o Barbiekill, Sinks e os Camarones Orquestra Guitarrística, som mais pesado com o Ravanes e Verdade Suprema e rock durão e melódico com Brand New Hate, Distro e Arquivo. Em relação ao ano passado aumentamos em quase 100% o número de atrações. Essa ação é integrada ao Grito rock Brasil que rola durante o carnaval, mas toda a parte da produção da Chamada é da DoSol em parceria com a Capitania das Artes.O Festival Nordeste Independente começou bem pequeno no ano passado sendo realizado em duas cidades: Natal e João Pessoa. Esse ano queremos chegar a cinco ou seis cidades nordestinas e movimentar cerca de 70 bandas da região.

Para realizar esses eventos você recebe algum tipo de apoio? O que lhe instiga a promover eventos como estes?
A dificuldade é comum a qualquer empreendimento: falta de giro, problemas de caixa e coisas do tipo. Mas a gente faz eventos como estes porque é nosso trabalho e é o que sabemos fazer de melhor. Só o carnaval tem apoio da Capitania das Artes, ou demais são feitos sem patrocínio e com o dinheiro dos custos sendo movimentado com a bilheteria mesmo.

O Dosol é o único espaço alternativo em Natal que realiza atividades permanentes. Recentemente dois locais, parceiros: uma livraria (limbo) e uma loja de cds (velvet), que também estimulavam e abriam espaço para "produtos" alternativo e independentes fecharam. Como você enxerga isso? Uma tendênia natural devido ao avanço da Internet ou isso demonstra a passividade do público natalense ?
O público nunca tem culpa, ele reflete o que pensa e o que gosta. Nós não podemos nos esquecer que estamos trabalhando com Vanguarda, com o novo, com um movimento que vai contra o que está estabelecido. Acho que olhando assim é mais fácil detectarmos ações educativas que possam deixar lugares como esses funcionando. Formar público por exemplo é que fazemos com o DoSol há quase sete anos. Os governos também deveriam nos ajudar nisso porque está ligado diretamente a educação. Memória e vanguarda são as duas coisas da qual as secretarias de cultura deveriam atuar com mais força! Acho que estamos na vanguarda quase sozinhos. O público? Nunca tem culpa!

De acordo com o balanço geral feito no site o ano de 2007, ficou no zero a zero. Quais os planos para 2008 ? Que eventos/projetos irão permanecer ? E o que vai ser inédito?
Acho que já fazemos muita coisa. Agora a briga é a manutenção do que já fazemos e isso é o mais difícil. Nossa meta atual é transformar o Centro Cultural DoSol Rock Bar num centro de cultura e interatividade com a população, um espaço vivo de cultura de vanguarda. Sub utilizamos o local nesses quase quatro anos de uso e agora queremos além de fazer shows, promover outras ações durante o dia. Um livro sobre nossa curta história também é um projeto para esse ano. De resto é tudo igual, vários lançamentos, festivais, shows no bar e ações em todos os cantos da cidade!

O que você pretende reunir no livro ?
A idéia é reunir todo o conteúdo que produzimos nesses quase sete anos de atividade e contar um pouco da nossa história e por tabela contar um pouco da história do rock recente de Natal. Queremos reunir flyers, matérias de jornal, resenhas, opiniões, praticamente tudo o que foi dito sobre nós além de textos inéditos de pessoas que acompanharam esse processo. Vai ser demorado mas creio que conseguiremos fazer algo do tipo em breve.

A Internet tem sido um herói e um vilão para a música. Se por um lado é fácil ter acesso ao material gráfico das bandas, por outro existe ainda um impasse sobre os diretos autorais. Como músico e produtor, de que forma você encara esse dilema ?
Olha eu acho que a música tem sua plataforma em mutação desde que o mundo é mundo. No período moderno já tivemos compactos, lps, vídeo lasers, cd, dvd e agora hd (virtuais ou físicos). Os órgãos de direitos autorais estão aí para acompanhar estas mudanças. Agora a facilidade gera quantidade por isso que estamos passando por uma mudança filosófica. Quanto mais fácil for gravar um disco e colocar sua música para todos ouvirem mais a humanidade do show vai fazer diferença, porque vai separar os bons dos sem talento (aproximados perigosamente pela tecnologia).

A internet também é o principal meio de comunicação dos festivais que você está organizando. Tanto para divulgação como meio de diálogo com os produtores dos Festivais Grito Rock e Nordeste Independente, que acontecem simultaneamente em diferentes cidades. Como é esse diálogo virtual ?
O diálogo é prático, direto e sem rodeios. É como se morássemos na mesma cidade, não tem mais distância para quem quer fazer as coisas. Dois pólos fortes da música indie nacional estão em Natal e em Cuiabá, duas cidades totalmente fora do eixo do mercado musical nacional desde sempre.

Você tem viajado bastante e tem o seu trabalho reconhecido em outras regiões do Brasil. Dá pra fazer uma comparação com a organização musical de Natal e outras cidades? (Porte de festivais, casas de show, profissionalismo, qualidade musical, estúdios ...)
Natal em termos de rock é uma cidade privilegiada. Somos uma cidade relativamente pequena, com as dificuldades que uma capital do Nordeste tem, principalmente em se tratando de rock, que não é a música mais popular desta região. Mesmo assim temos dois grandes festivas com enorme reconhecimento fora do estado: o Dosol e o MADA. Além disso temos três ou quatro selos atuantes na cena, o dosolrockbar que é uma casa de show especializada nessa produção, vários estúdios sensacionais, ou seja, temos tudo o que precisamos para crescer, sem deixar a desejar a capital nenhuma do Brasil. Cabe agora as bandas acompanharem esse processo e ajudarem a forma cada vez mais público e música relevante dentro da nossa cidade. Fui palestrante do Rumos do Itaú Cultural em São Paulo, Rio e Vitória, três das principais cidades brasileiras, falando exatamente de como é fazer parte desse processo numa cidade como Natal. Lá fora eles ficam impressionados com o volume de coisas que fazemos aqui. Aqui dentro, às vezes até por costume, muitos não percebem a importância do que estamos realizando. Mas estamos num processo e creio que tudo tem o seu tempo. Sorte para nós todos !

Correio da Tarde

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