27.4.07

O debut do Abril pro Rock


Como manda a tradição os 15 anos requer uma comemoração especial. E não foi diferente para o festival de maior número de edições consecutivas, que comemorou seu debut em grande estilo: apresentando ao Brasil novas bandas estrangeiras, apostando em revelações musicais e na mistura de ritmos.

Assim quem participou da 15ª edição do Abril pro Rock, que aconteceu no Centro de Convenções de Olinda, entre os dias 13 e 15 de abril, conferiu 28 atrações tocando em 3 palcos. Sendo quatro atrações internacionais – The Film (FR), Marky Ramone (EUA), Los Alamos (ARG) e Lee ‘Scratch’ Perry (JAM) – mais 24 atrações das 4 regiões do País.

A impressão deixada é que o festival conseguiu satisfazer o público presente — mas não atraiu tanto diante do porte do evento. Durante os três dias de Festival, deu pra sentir a diversidade e a ausência do público pernambucano. Preço do ingresso? Programação? Horário? Localização? Repetição? Há quem aponte alguns desses fatores. Mas quem afirma ?

Música no palco e no chão

Embora todas as atenções da sexta-feira 13, estivessem voltadas para o antológico show dos Mutantes, que não aparecia há mais de 35 anos em terras pernambucanas, a banda potiguar Os Bonnies - já veterana em festivais, mas estreante no palco 3 do Abril pro Rock – revelou-se como a grande surpresa do primeiro dia do Festival, ganhando elogios da imprensa especializada e cativando o público com um rockabilly contagiante, tocado com muita espontaneidade.

O novo Mutantes (SP), fez um ‘show certinho’ e acertou nas crias. De três integrantes, multiplicou para dez, mas ainda pareciam ser mais em cima do palco. Embora o show tenha sido tecnicamente perfeito, e a cantora Zélia Duncan tenha mantido ‘a coroa da majestade’ à altura, inclusive com novos arranjos para as músicas, no ‘caldeirão’ faltou mesmo a mágica presença de Rita Lee. Expectativas à parte, a primeira noite do Festival encerrou em alta.

A noite do segundo dia de Festival foi tomada pelos cabeludos de preto, tanto no palco com ícones do gênero da cena roqueira nacional e internacional, quanto na platéia.

Destaque para: Marky Ramone (EUA) e Tequila Baby (RS) que fizeram um ótimo show, com direito até a uma canção da Jovem Guarda — “deixe essa menina faça-me o favor ... iê, iê” (Renato e Seus Blue Caps). Ratos de Porão (SP) que fez o público delirar formando uma grande roda de pogo em frente ao palco. E o visual da caveira cibernética, além de uma iluminação muito bem explorada, do Sepultura que fechou a noite de sábado com um show visceral.

Rock de saias e novidades hermanas

Sem dúvidas, domingo foi o dia mais eclético de todos, embora o público tenha sido o menor dos três dias do APR 2007.

Marcaram presença os autênticos ritmos nordestinos (forró, coco e frevo) adicionados a sonoridades universais como o rock e o reggae. A começar pelos Mestres do forró (PE/CE/PB) Azulão, Valmir Silva, Messias Holanda e Biliu da Campina – que colocaram pra dançar um pequeno público que se formou em frente ao palco 1. Seguidos pelo rock da banda goiana Valentina, que fez um show morno e apático, a não ser pelos pulinhos saltitantes do vocalista. Já as atrações baianas Rebeca Matta e Canto dos Malditos da Terra do Nunca revelaram a nova safra da voz feminina no rock nacional.

Rebeca Matta sabe usar muito bem sua presença de palco, apresentando um rock com feminilidade à flor da pele. Já Andréia (Canto dos Malditos), embora tenha sido comparada a Pitty numa matéria dos jornais locais de Recife, a loira parece ser bem menos despretensiosa no palco e na voz.

A irreverência e a ironia dos The Playboys (PE), na última hora, não deixou barato nem o festival que eles tanto 'aprontaram' para participar. Brincadeiras com o produtor Paulo André, com o secretário da Cultura de Pernambuco Ariano Suassuna (ouçam o “pancadão armorial”), com o público indie (indie-ota?!) e até com o show de Chico Buarque "deixa eu ser o teu playboy, somos da mesma classe social”, bradavam! — (Chico fez show em Recife um fim de semana depois do festival, com ingressos esgotados e sessões extra.) Ah! E eles ainda lançaram a campanha das Barbies Backing Vocals pro APR 2008, em nova versão para a música “Paulo André não me ouve”. Hilário!

A Orquestra Contemporânea de Olinda (PE), formado por maestros da orquestra de frevo e músicos de destaque do cenário da música local, teve uma ótima apresentação e conquistou a simpatia do público presente. Eles ainda fizeram uma participação, muito bem encaixada, durante o show dos argentinos Los Alamos, que fizeram uma apresentação anestesiante — a novidade musical da programação. Para fechar uma noite tão eclética e cheia de participações internacionais, a figura dos brilhos e a energia pacífica do reggae jamaicano de Lee Perry.

Outras cositas más

Mas o festival não se propõe a ter só música. Nas áreas alternativas como a feira de entretenimento, marcaram presença a gravadora/selo Monstro (GO), a Associação dos Festivais Independentes (ABRAFIN), moda com as marcas de Jéssica Tavares, Andréa Ton e Semira Casé, o coletivo Rede da Resistência Solidária (RRS), stand de instrumentos musicais, artesanato, além de exibição de motocicletas e carros envenenados – prato cheio para quem gosta de emoção sobre rodas.

E o que você acha de jogar peteca com raquete ouvindo o bom e velho rock’n roll no mais alto volume? A novidade do Badminton formou filas para experimentar essa atividade até então desconhecida pela maioria. É o esporte associado à cultura. Genial!

O espaço da maior patrocinadora do evento, a Petrobras, disponibilizou computadores para os interessados ouvirem músicas das bandas participantes do festival e outras seleções divididas nas categorias de tradicional, erudita e popular. E quem quisesse fazer uma pose de ‘star’ podia tirar fotos e zoar com os amigos num mini palco disponível também no espaço.

No local, grafiteiros produziam painéis e camisetas na hora, estas distribuídas para o público por meninos que fazem parte do projeto social da Ong Tortura Nunca Mais. Vanderson Silva, ou simplesmente TJ, 21 anos, participante do projeto, pintou uma camisa especial de Bob Marley para entregar pessoalmente a Lee Perry e seus músicos. É a troca cultural que quebra barreiras e integra as mais diversas possibilidades artísticas: de Recife para Jamaica, do mundo para Recife que ‘abriu pro rock’.

Toda essa interatividade e pioneirismo mostram porque o Abril pro Rock é uma referência para outros festivais e se consolida em seus 15 anos como um dos maiores do Brasil.

por Renata Marques

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