17.1.07

Solaris Discos - 10 Anos





(por Jesuino André)


Até parece que foi ontem. Nos idos dos anos 90, num ensolarado dia de sábado, Alexandre Alves me aparece na porta de casa trazendo na bagagem toda idiossincrasia sonora potiguar para minha curiosidade (na época eu editava o zine Musicland apresentando bandas de todo país). Tinha ligado dizendo que iria fazer uma visita e mostrar o som da banda dele, foi o sonoozer sergipano Rafael Jr responsável pelo contato. Pois é, na barriga já carregava a Solaris tendo como álibi as bandas Movement e Chronic Missing. Vi o selo nascer.

Para traçar o perfil histórico, é bem simples, sem segredos, folclore ou destaque fenomenal. Particularmente nesse inicio o que me intrigou foi o caráter idealista que rapaz tinha e que moldou toda produção musical do selo. Fazer música influenciada e tocada como um estrangeiro era o mote para o patinho feio na cena potiguar, alias em terra brasuca. Até hoje ainda gera um certo preconceito. E ainda ser independente, mais idealista impossível!

Surgido no auge da ebulição da música independente nacional, a Solaris Discos (o Records foi primeiro sobrenome) tinha a singela pretensão de apresentar novidades do pop & rock natalense. Os lançamentos começaram no formato cassete, acompanhou novo formato e abrangeu outras produções, lançando bandas até de outros estados (Snooze, Musa Junkie, Toby One).

É certo que todo conceito idealista flui e dissipa no esgoto do comercialismo moderno, fortificado pelos avanços tecnológicos e interesses diversos da humanidade.

Lá pelos anos 90, esse desmando não era tão explicito. Porque pairava o frescor das descobertas, a exaltação e alegria da comunhão de um ideal musical imaginado – novas bandas com novas abordagens, diversidade de estilos, festivais, fanzines, selos, etc.

A Solaris nasceu dentro da mesma proposta. Esses mesmos anos em Natal, florescia de jovens e promissores grupos de pop-rock (Florbela Espanca, General Lee, Alfândega, Movement, Os Quatro, Antonio Maria, A Máquina,) e nada era mais justo do que registrar cena e divulgar suas produções. Foi nessa deixa que o jovem Alexandre Alves, que tinha sido vocalista do Movement e depois líder do Chronic Missing, resolveu criar um selo que desse suporte e identidade para suas produções. Era tudo na base da demo-tapes, vendas em shows e pelos correios, além de divulgação em fanzines por todo país. "No começo, eu me sentia um estranho no ninho. Não é como hoje, que existe a Mudernage, o Geladeira e o DoSol. O pessoal do metal era organizado, mas quem tocava rock independente no Nordeste não tinha um selo que lançasse o material, então o Solaris veio para organizar shows e produzir bandas do cenário local" declarou Alexandre para o jornal potiguar Correio da Tarde, resumindo bem o espírito da coisa.

Com a providencial parceria com Henrique Pinto, dublê de guitarrista e produtor ampliou as ações – incluindo uma loja de discos - proporcionando suas próprias produções com o home-studio Solaris Móbile; ai o trabalho do selo ficou conhecido nacionalmente. Atravessou a década, chegando a significante marca de 50 lançamentos!

Os mais recentes produtos do selo são: uma coletânea internacional e o mais novo disco dos sergipanos Snooze em parceria com a Monstro Discos; em andamento a coletânea com novas bandas poptiguares e pronto pra sair do forno o documentário em DVD sobre essa data comemorativa, trazendo depoimentos, imagens de shows e videoclipes do cast.

Atualmente Alexandre Alves é professor universitário, mas não abandonou o hábito de editar fanzines, como o atual "Barulhoscópio", ensaia novo combo chamado Deserto Lunnar e agrega ao currículo a dissertação sobre a poetisa Zila Mamede, que foi transformado em livro. Numa entrevista exclusiva, Alexandre nos fala sobre a Solaris e o meio musical:

10 anos da Solaris

Qual o balanço do selo durante esse período?

Alexandre Alves
: O selo não foi feito para gerar lucro, foi feito para lançar musica pop, sem regionalismos e, de preferência, com guitarras em evidencia. Nunca pensei em chegar aos dez anos de existência, e muito menos alcançar 50 lançamentos. Pra quem sempre prezou em desprezar o mercadão e suas vicissitudes, o placar é 50 X 0.
Difícil mesmo é conviver com quem é desorganizado por excelência, ou seja, os "rockers", potiguares ou não.

Como você vê hoje o mercado independente no país?
A.A.: Mais organizado, se comparado com o Brasil nos anos 80, auge do chamado "rock brasileiro", com selos como Wop Bop e Baratos Afins sendo pioneiros no cenário independente. Mas, ainda hoje, sinto falta de um bom distribuidor para os produtos, sejam eles cds, camisas, dvds ou fanzines e revistas. Se formos comparar com outros países de mesmas dimensões, como os Estados Unidos ou Austrália, continuamos atrasados uns 10 anos!

As novas tecnologias têm ajudado a esse mercado?
A.A: Isto é algo bastante relativo, pois ficou muito mais fácil e barato gravar. No entanto, quem grava em estúdios no Brasil – tirando raras exceções como Yure, produtor dos Walverdes (RS) - , não tem boas idéias na timbragem e mixagem em geral. Você pega qualquer banda canadense ou portuguesa independente e o som da guitarra e bateria é genial. No Brasil, parece que nunca ninguém gravou um disco de rock. Lembro da primeira e segunda gravações em k7 do Mopho (AL), uma exceção, com som de guitarra, baixo e bateria perfeito.

Quais selos brasucas você destacaria?
A.A.: Baratos Afins, pelo pioneirismo e pelo tempo de descompromisso com o sucesso; Midsummer Madness, que tenta seguir seus caminhos pelos indie-pop, sem se importar se vai vender ou não; e a Monstro, pela quantidade de lançamentos e por organizar dois festivias "monstruosos", o Goiânia Noise e o Bananada.

E os planos futuros da Solaris Discos?
A.A: Lançar a coletânea "Solaris 50", só com banda novas do Rio Grande do Norte. Tirar longas férias. Dar um tempo. Depois, quando a Mudernage e outros selos chegarem em 50 lançamentos lá em Natal, a gente retorna à ativa.

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10 Planets – An International Compilation (Solaris Discos/Musicland Recs)
Celebrando dez anos de atividades, o selo potiguar Solaris Discos em parceria com o Musicland Records lança sua primeira coletânea com grupos internacionais. "10 Planets" reúne bandas da Europa, Estados Unidos, Austrália e Brasil, no melhor formato pop que caracteriza as produções do selo natalense.
Presente no disco e pela primeira vez publicados num selo brasileiro temos os ianques Vervein, Morning Spy, The Dalloways, os australianos Gigantic e Modern Giant, o estoniano Pia Fraus, os noruegueses The Lionheart Brothers, os suecos Moonbabies e os brasucas the Automatics e Continental Combo. Boa pedida para conhecer um pouco do pop internacional.


[+] Contato Solaris Discos:
Rua Engenheiro José Rocha, 3401,
Natal-RN - 59065-260
(84) 3234-2850.

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