13.8.06

Diagonal



Entrevista com a banda paulista Diagonal, edição #3 do Lado[R]
por Dimetrius, respondida por Cláudio R. Duarte


1. Pra começar, por que o diagonal parou por um tempo?
Com a saída do ED (baixo e guitarra no "model to deceive"), tivemos dificuldades de encontrar um novo integrante. Depois, quando encontramos, a banda já estava mais esfriada, perdeu um pouco da pilha. Depois houve alguns problemas de tempo pessoais, principalmente meus.

2. E o porque da volta?
Tinha vontade de tocar, ensaiar, fazer músicas novas. Tinha muita gente pedindo essa volta também, isso é importante. Nesse tempo todo acumulamos umas 6 ou 7 músicas bem boas. Então voltamos, em primeiro lugar, para compor realmente e gravar estas e outras músicas novas, fazer alguns shows. Tocar dá prazer. Mas o ritmo é um pouco mais lento que no passado.

3. Qual a formação atual do diagonal? Então, podemos esperar que, um dia, saia mais algum trabalho do diagonal?
É Claudio (guit. / vocal), Sergio (guit.), Richard (bat.) e Marcelo (baixo). Até o final deste ano acho que conseguiremos fazer um outro disco, com umas 10 músicas. Mas não há pressa.

4. Como você definiria o som que o diagonal faz? Hoje, há algum direcionamento diferente nas músicas do diagonal?
Em certo sentido o nome da banda é eloqüente [\]: um som desequilibrado, meio torto, bastante anguloso, perspectivístico e não obstante também enquadrado numa forma acabada etc. Acho que consolidamos uma forma própria de compor e tocar dentro de um certo estilo mais geral de época, que alguns hoje chamam "math rock". Mas quando começamos esse rótulo não existia.
Hoje a preocupação é fazer músicas um pouco mais simples, trabalhando melhor a relação entre repetição e diferença, cuidando melhor da relação melodia, ritmo, timbragem de instrumentos etc. Permanece o interesse de fazer músicas diferentes umas das outras.

5. O sérgio hoje é o capitão do selo amplitude. É natural que a a amplituded dê um suporte para a banda nos próximos trabalhos?
Creio que sim. O próximo lançamento aliás, será o primeiro disco do Debate, que é a banda nova dele, do Richard e do Marcelo.

6. Por falar em Debate, as bandas são irmãs? Digo, há algo que relacione as duas bandas fora o fato de 3/4 do diagonal tocarem no Debate?
Acho que o debate procura a sua própria sonoridade, e tem milhares de boas idéias. O som deles é bem mais pesado, e as músicas são em português.

7. Hoje em dia, o que te desperta a atenção no rock outsider feito no Brasil?
Algumas bandas desconhecidas (pra variar) do público underground: morde o rabo, hurtmold, space invaders, ordinária hit, shiksa, um pouco de pex bah. E algumas novas promessas. Mas não conheço tanto assim, praticamente nada do Norte nem do Sul do país.



8. E os shows? como está sendo o feedback do público depois do retorno?
Acontece um efeito boomerang bem conhecido: depois de 4 ou 5 anos as pessoas começam a conhecer melhor as músicas e aí há uma demanda por shows bem maior, uma compreensão que antes talvez não havia. Será que o nosso som é tão difícil assim? Acho que algumas bandas precisam desse intervalo para serem realmente ouvidas.

9. Esse tal "som complicado", você acha que ele é construído a partir de quais influências?
Realmente falou bem, se trata de influências, não de cópia. Todo mundo tem suas bandas preferidas. Mas é um longo percurso, uma verdadeira destilação de materiais, até chegar numa sonoridade própria. Gostamos muito em comum de Jawbox, Burning Airlines, Faraquet, Fugazi, Gang of Four e The Ex. Fora isso, muitos músicos ou bandas tradicionais do rock, do jazz, da mpb, etc.

10. E as letras? Do que vocês tratam nelas?

As letras do diagonal estão quase sempre conectadas com as músicas. Há uma relação de complementação entre ambas. Na maioria das vezes um som sugere um tema para a letra e esta, por sua vez, faz com que a parte sonora desenvolva-se numa determinada direção. As letras tem vários assuntos. Quem canta a música faz as letras, com a ajuda dos outros. Em geral nossas letras não são muito diretas, nada a ver com o protesto político imediatista. Mas tem a ver com um impulso ético de não se conformar com o mundo existente. Em todas as minhas letras há uma crítica à alienação produzida pelo capital e pelo Estado.
Para perceber melhor essa relação sinestésica entre letra e som, houve uma discussão na nossa comunidade no orkut, que vale a pena: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=655184&tid=2429536420218899687.

11. Percebo isso nos textos do seu blog. O que é escrever para vc?
Escrever é essencial para mim. É o pensar e o sentir puros, postos em ação, em alta intensidade e velocidade. A escrita e a leitura, tal como a composição musical, são formas de criação que realmente me fazem sair fora de mim. Quem tem alguma forma de atividade criadora deve sofrer menos com o enrijecimento geral da vida dominada que nos é imposta. É uma forma de libertação relativa.

12. Você já publicou algo? Além do diagonal, em quais atividades vocês se envolvem?
Tenho muita vontade de publicar, mas nunca fui atrás. Os textos vão se acumulando, mas nenhum convite. Sou professor de geografia, entrando num doutoramento; o Sergio tem o selo amplitude; o Richard dá aulas de bateria e toca em outros projetos fora debate e diagonal; o marcelo trabalha como web designer.

13. Mainstream é um lugar bom para a criatividade?

A "corrente principal" da música pode ser criativa, é claro, assim como o subsolo pode ser a música mais pobre, leviana, repetitiva, comercial a seu modo ( músicas fáceis para um pequeno público fiel de fanáticos). A forma da mercadoria não está somente fora da música, isto é, no comércio de discos etc., mas na própria música. Digamos que no mainstream essa penetração da mercadoria é mais fácil,o objetivo do lucro molda, nos piores casos da música pop, cada detalhe da música, do disco, até do corpo do músico, exigindo todo um sistema de produtos interconectados (camisetas, video-clipes, músicas na fm, etc.). É a mercantilização total.


14. Underground é um lugar bom para a criatividade?
Como disse, o underground pode ser comercializável tanto quanto quem está no andar de cima. Mas a chance de fazer algo sem pressão de gravadoras, manter a espontaneidade e a independência é maior. A música em si mesma se torna pura mercadoria apenas nos piores casos.

15. Cláudio, pra mim tá de bom tamanho...
Gostaria de convidar as pessoas que não conhecem o diagonal a procurarem pelos discos da banda (highlight sounds). Se procurar bem, dá até para achar algumas mp3 na internet. E aqueles que já conhecem, gostaria de convidar a participar de nossa comunidade do Orkut, pois é o lugar atual onde a informação corre mais rápido, assim como a discussão sobre a banda em geral.
Meu blog www.militante-imaginario.blogspot.com, e a página desatualizada da banda: http://diagonal.gq.nu



* Logo depois do fechamento da edição #3 do Lado[R], ficamos sabendo que o Diagonal deu outra parada... O consolo é que o Cláudio tá com uma banda nova, o MAQNO, e pretende gravar logo logo... o restante do Diagonal toca na banda Debate, que por sinal tocará no início de setembro em Recife junto dos americanos do Tortoise no festival do pessoal do Coquetel Molotov... Estaremos lá arriando lombra.


contato: duarteclaudio@yahoo.com.br

links relacionados:
www.militante-imaginario.blogspot.com
www.myspace.com/debaterock

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